quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A CRIANÇA SEMPRE BATE À PORTA


            Ao som deste mantra escrevo a vocês, entregando-me às imagens que vem, se achegam e passam, lançando-me na correnteza dos três tempos. A memória ecoa e também faz sua passagem. E é quando me pego em uma visão-menina: aos 6 anos  frequentando a escola.
Uma criança que sempre conviveu com adultos e que gostava de brincar na rua, nas árvores e com as crianças das casas vizinhas. Ah! A vida do interior... vacas e galinhas, passarinhos e gatos por perto e a visita sempre auspiciosa de meu avô que trazia seu aroma madeira e muitas histórias pra contar e músicas para escutar.
Na pré-escola do bairro, sentada na fileira da parede acompanhava a professora desenhar uma árvore na lousa verde enorme. Enquanto isso dois meninos, com a mesma idade que a minha, falavam sem parar, riam. Era bom olhar para eles assim. De repente, ela virou-se muito irritada e gritou. E vindo na direção do primeiro menino bateu-lhe na cabeça com aquela régua de madeira enorme. Fechei os olhos. Um silêncio aterrador caiu sobre a sala. Chorei, silenciosamente. Eu também era aquele menino e nada podíamos fazer.
            O efeito de uma ação repercute em todos os envolvidos, também em quem somente assiste. A ação é gesto, palavra, pensamento. Por vezes, podemos selecionar o que vamos assistir, escolher, decidir... por outras não há esta possibilidade, de repente fomos capturados por aquele acontecimento, de repente, não mais que de repente... podemos também enfrentar, mas e uma criança diante de parafernálias gigantescas e duras que a nossa sociedade tratou de construir?
            As crianças, seres que fluem com o espaço em que vivem, estão forjando nos encontros sua sensibilidade – instância fundamental para toda a sua existência. O ‘universo’ tão singular da criança exige delicadeza para ser visitado, assim que ela possa ser acolhida e respeitada em suas diferenças em toda e qualquer circunstância.
            Partilho esta lembrança, de coração aberto, para que cantemos aos ventos: Que todos os seres tenham bem-estar. Que todos os seres tenham paz. Que todos os seres sejam felizes!
            Grande abraço.
              Namastê!

Lívia Pellegrini


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