Ao som deste mantra escrevo a vocês,
entregando-me às imagens que vem, se achegam e passam, lançando-me na
correnteza dos três tempos. A memória ecoa e também faz sua passagem. E é
quando me pego em uma visão-menina: aos 6 anos frequentando a escola.
Uma criança que sempre conviveu com
adultos e que gostava de brincar na rua, nas árvores e com as crianças das
casas vizinhas. Ah! A vida do interior... vacas e galinhas, passarinhos e gatos
por perto e a visita sempre auspiciosa de meu avô que trazia seu aroma madeira
e muitas histórias pra contar e músicas para escutar.
Na pré-escola do bairro, sentada na fileira da parede acompanhava a
professora desenhar uma árvore na lousa verde enorme. Enquanto isso dois
meninos, com a mesma idade que a minha, falavam sem parar, riam. Era bom olhar
para eles assim. De repente, ela virou-se muito irritada e gritou. E vindo na
direção do primeiro menino bateu-lhe na cabeça com aquela régua de madeira
enorme. Fechei os olhos. Um silêncio aterrador caiu sobre a sala. Chorei, silenciosamente.
Eu também era aquele menino e nada podíamos fazer.
O efeito de
uma ação repercute em todos os envolvidos, também em quem somente assiste. A
ação é gesto, palavra, pensamento. Por vezes, podemos selecionar o que vamos
assistir, escolher, decidir... por outras não há esta possibilidade, de repente
fomos capturados por aquele acontecimento, de repente, não mais que de
repente... podemos também enfrentar, mas e uma criança diante de parafernálias
gigantescas e duras que a nossa sociedade tratou de construir?
As crianças,
seres que fluem com o espaço em que vivem, estão forjando nos encontros sua
sensibilidade – instância fundamental para toda a sua existência. O ‘universo’
tão singular da criança exige delicadeza para ser visitado, assim que ela possa
ser acolhida e respeitada em suas diferenças em toda e qualquer circunstância.
Partilho
esta lembrança, de coração aberto, para que cantemos aos ventos: Que todos os seres tenham bem-estar. Que
todos os seres tenham paz. Que todos os seres sejam felizes!
Grande abraço.
Namastê!
Lívia Pellegrini